quinta-feira, 16 de setembro de 2010

À meia-noite

Amar pode ser uma grande mentira, pode ser só abstinência. Eu vim andando por essa terra toda, essa poeira brasileira de estrada, é tanto sol e verde e mais poeira que não faz sentido algum perder tempo com o amor. Somos feios demais pra amar, essa troca sem fim de carícias até a pele virar uma crosta, os olhares se cansam, a virília se cansa, e se não tiver todo esse jogo de entrar e sair, amigos também cansam. E é correria demais sobreviver na latrina em que nos botaram pra viver, não existe tempo pro amor! Pelos deuses, não há tempo pra cheiros, não são tempos de beijos! São tempos de cuspes, mais cuspes e escarros pra gente nadar! Não vale a pena entrar nesse filme a essa altura de nós, tanta gente nascendo e arrancando os ossos e assassinando os pais, amar pra quê? Estamos loucos? Estamos pelo menos loucos?

quarta-feira, 21 de julho de 2010

despedida

Acordar sem rumo, permanecer assim.

Não é como se os pés seguissem,
mas como se a cidade passasse sob eles.
E, ai!, pobre alma solitária e errante
que busca
que busca
que busca
que busca.

terça-feira, 6 de julho de 2010

Minha criança, meu menino.

Um tanto tarde chega esta despedida, e eu justifico dizendo que desisti de algumas palavras que já foram ditas e de outras que já não cabem mais.

Mais que que me ocupar, tua presença me levou a caminhos desconhecidos. Senti-me desbravadora e, muitas outras vezes, uma criança sozinha na mata. Foram tuas mãos que me levaram até lá. Hoje, vejo todos os detalhes como quem assiste a uma cena, distante. Vejo seus olhos. Vejo grandes e brilhantes farois fitando-me, investigando a proporção das minhas verdades e, em verdade, pouco interessado nas verdades mentirosas que eu insistia em revelar. Eu já havia sido revelada, mas me dou conta somente agora.

Minha maturidade se jogou do topo da tua inocência. Deitei no teu colo e fui eu a menina sem passado que nasceu ali, só sua. De muitas formas, meus sentimentos viajaram pelos teus; alguns, jamais regressaram.

Ao tentar transformá-lo, eu me esqueci de cravar os pés no chão. Vazia de tudo, voei nos teus braços. Tu vais e, entendas, eu estou caindo. Doi, porque não sei de onde parte o abandono, por tê-lo abandonado antes, sem saber do que viria depois. Eu ainda sinto tua presença, ainda que tua ausência me venha bater à porta.

Sobre minhas últimas palavras, foram sinceras. Eu te amo.

segunda-feira, 10 de maio de 2010

Subtil cécité

Quando os olhos se abrem, vêem laços. Vêem cerdas que são minhas e do travesseiro. Meus pulmões sobreviverão, embora haja tanta fumaça. Meu coração, no entanto, há de apagar-se; meu lumiar se encerrará. Há tanto para ver, mas meus olhos míopes alcançam apenas a distância do palmo à frente, nada mais. Por isso o chamo de 'meu mundo', 'meu futuro', 'meu mundo', porque é tudo que seu olhar profundo me mostra. E o infinito é tudo que posso ver.

quinta-feira, 15 de abril de 2010

A vida se faz,

Partes de uma confissão,



Luz. A primeira respiração terrena. O choro. E a vida aqui fora se faz diante de um olhar inocente. Tudo o que há de mais belo e horrível se infiltra aos poucos ali pelos poros e passa pelo corpo todo. E para ali na mente em forma de pensamentos. Na verdade, existem muitos fatos que passam despercebidos, seja por vontade própria ou não.

Há aqueles que tratam logo de expulsar tudo o que há de mais triste em si e também por mais absurdo que pareça há aqueles que expulsam o que há de mais feliz. Esses de certa forma gostam de cultivar o amargo sem uma explicação coerente, talvez já tenham se esquecido do outro lado da moeda.

Às vezes para alguns é difícil compreender o amargo que algumas pessoas carregam, mas para estas que possuem é mais difícil ainda compreender a si. Podem existir diversos fatores para uma pessoa escolher conscientemente (ou não) ser assim, não poderia exemplificar todos porque destes desconheço.

Esses fatores podem ser: frustrações, traumas, decepções vivenciais ou simplesmente por pura defesa. Na verdade, a defesa justifica todos estes anteriores. A simples e pura defesa contrária de quem já está fadado e prefere de certo modo se esconder do mundo e das pessoas. Esconder-se por não saber expressar quais são suas necessidades.

Seja por lágrimas ou sorrisos, tristezas ou felicidades o bom mesmo é perceber que a vida é voluntária a nós, nós na maioria das vezes é que não somos voluntários a ela. Fato.




Texto resgatado do meu blog pessoal Ode à Vida. Leia mais aqui.

quinta-feira, 25 de março de 2010

A vida, os limões e a vida

Só por um instante, perceba: é fácil viver. Não há tarefa que a substitua nem outra mais fundamental, mas como é simples. O indivíduo, sendo ele vivo, quando foi que se prontificou a existir. E, mesmo não tendo escolhido, o faz. Pois é esta a maior escolha: permanecer vivo.

Quanto vale uma vida? Quanto vale cada uma das bilhões de semelhantes almas inocentes que jamais escolheram existir, mas passaram/passam/passarão a ser sem que este sentimento lhes pertença? A vida é, literalmente, enquanto dura. É uma fruta fadada a apodrecer desde sua semente, nem sempre madura, nem sempre doce, por vezes arrasada por alguma praga tão imprevisível quanto sua própria existência.

A vida não é uma metáfora, não se pode prever, não se deveria planejar. A vida é agora, enquanto meus dedos adormecem tentando acompanhar o ritmo do que penso. A vida é o respirar e o bater do peito, simultâneo e assincrônico. A vida é involuntária. Existe e é sempre a mesma para todos, mas se desnorteia em cada detalhe e circunstância ocorrido, não previsto e aleatório, já norteado por outra vida anterior: limões.

Alguns fazem limonada, alguns atiram limões na água, alguns trocam seus limões por outros. Usam limões como arma nos olhos do inimigo. Jogam fora - e limão, por acaso, é recurso que se ofereça a alguém? Nada, no entanto, é inteiramente subjetivo. As escolhas, os julgamentos, mesmo esse pensamento confuso e desconexo pode ser explicado logicamente, se houvesse matemática que abrangesse a vida. Não há escolha nem nas palavras que penso escolher; tudo é condicionado ao que sou ou ao que me tornei em função de meus limões. A inusitada vida não é uma metáfora.

A vida não acaba: ela se esgota em seu espaço individual e semeia sua essência em outras tão aleatórias ilusões. A vida passou e continua agora, enquanto permaneço aqui. Ainda tenho limões, um respirar e um bater no peito. Não é agora, mas será um dia. Não importa: a vida é o durante.

terça-feira, 9 de março de 2010

Viajante regresso, ouça:

feito seu trajeto, é hora então de repousar.

Nos peitos esperançosos houve calor todo esse tempo e cabe, agora, escolher o mais cômodo e afável descanso. Seja sempre bem vindo onde quer que aporte. Vaga minha alma agora em paz, porque não mais existe um oceano de distância. Peço agora que, lendo isto, imagine minha voz a sussurrar-lhe canções ingênuas, até que, leve, sua pele sinta meu cuidado contigo e teus olhos me vejam ao teu lado. Assim cabe o meu abraço aqui, pela falta que me tem feito suas palavras e tua existência menos remota.

segunda-feira, 8 de março de 2010

vim, vi, venci. (e voltei)

Fujamos dos castelos imensos das nossas ilusões.

Viver é urgente!